sexta-feira, 20 de novembro de 2009
by Imprensa

O futebol é visto como uma das manifestações populares mais democráticas do mundo. O elenco de protagonistas, que faz a alegria da torcida com a bola nos pés, é formado por gente de todo o tipo. Para gostar do esporte, também não é necessário pertencer a qualquer etnia ou condição social específica. Hoje em dia, o único fator que exclui certas camadas da população é o preço dos ingressos para ver o espetáculo ao vivo, efeito colateral maléfico da chamada modernização, que busca elitizar o esporte.

Pelé comemora um de seus gols durante partida disputada contra a seleção da Itália na Copa do Mundo de 1970, realizada no México
No entanto, nem sempre a situação foi assim. Quando retornou ao Brasil da Inglaterra em 1894, Charles Miller, paulistano descendente de ingleses e escoceses, trouxe consigo uma bola e um conjunto de regras. O futebol, então, passou a ser praticado pela elite tupiniquim sendo, inclusive, proibida a participação dos negros.

Quem diria que anos depois, o rei do futebol seria justamente um negro vindo de uma família humilde do sul de Minas? Prova de que o tempo e a evolução do ser humano não agregaram somente coisas ruins ao mundo.

Curiosamente, o milésimo gol do rei do futebol foi marcado no dia 19 de novembro de 1969 e ontem, véspera do dia da Consciência Negra, a ocasião completou 40 anos. Pelé é um dos negros mais bem-sucedidos do mundo e sua trajetória profissional brilhante, inevitavelmente, serve de inspiração para milhares de jovens aspirantes a carreiras dentro do futebol e ao sucesso profissional, de uma maneira mais ampla. Ainda assim, o atleta nunca levantou objetivamente a bandeira do orgulho negro e nem assumiu a causa como uma de suas prioridades.

"Pelé nunca se envolveu diretamente com o problema racial deste país, mas isso não significa que ele não tenha enfrentado problemas de racismo ao longo da sua trajetória", afirma Angélica Basthi, autora do livro "Pelé: Estrela Negra em Campos Verdes". Na publicação, que aborda tanto a trajetória brilhante do atleta nos gramados como também os episódios polêmicos de sua vida pessoal, a escritora fala de momentos em que o racismo era total e descarado. "Na Copa de 1958, por exemplo, uma reportagem afirmava sobre a passagem do jogador, então com 17 anos, pela Suécia: 'Ao ver Pelé, a criança loura solta a mão da babá e corre chorando: mamãe, mamãe, ele fala'", conta.


JULIANA FARANO

Comments

Leave a Reply

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.